quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

"O Juiz de Paz " uma análise de Daniel Schenker


O espetáculo o "Juiz de Paz" estreou em Novembro de 2011 dentro do Grande Festival Martins Pena de Teatro Amador na Casa de Cultura Laura Alvin, Ipanema/RJ. O crítico Daniel Schenker estava lá, e fez uma análise do texto e da montagem.

O brilho do acabamento - Daniel Schenker*

O Juiz de Paz na Roça é um símbolo da valorização da dramaturgia brasileira no teatro do país. Remete à iniciativa de João Caetano, que investiu na encenação da peça juntamente à outra produzida por aqui – Antonio José ou o Poeta e a Inquisição, de Gonçalves de Magalhães –, ambas no mesmo ano de 1838.
Esse texto de Martins Pena concentra algumas das principais características de sua obra. Sobressai o fascínio pela corte numa época em que a cidade grande era vista como local repleto de diversões, mas que poderia levar o morador do interior, muitas vezes desenhado como detentor de certa pureza na comparação com o habitante da capital, à perdição. Uma visão descortinada, inclusive, por Arthur Azevedo numa das peças mais importantes da dramaturgia nacional: A Capital Federal.

O deslumbre diante do exterior também vem à tona em breve menção da personagem, que pede ao pai, em anunciada viagem à cidade, que compre sapatos franceses. Trata-se de uma referência à supervalorização do estrangeiro em detrimento do brasileiro, elemento frequente nas peças de Martins Pena, que, muitas vezes, traz personagens que não hesitam em inserir expressões (erradas) em inglês ou francês nas frases em português. O autor também cita a mágica (“Mágica é um negócio cheio de maquinismo”), subgênero musical menos valorizado que outras manifestações como a opereta e a revista.

A montagem da Fios Cia. de Teatro, de Nova Iguaçu, valoriza o jogo físico entre os atores imprimindo agilidade à cena. A malícia das situações é, até certo ponto, acentuada. O diretor Renato Neves assina uma encenação fluente e concisa, que busca extrair comicidade do universo dos personagens, realçando, por exemplo, o sotaque interiorano. Mas o terreno em que o espetáculo mais sobressai é no do acabamento estético, com destaque para os figurinos em variações de tons terrosos e a cenografia composta por caixotes e painéis com rendas estampadas – quesitos assinados por Tiago Costa.


* DANIEL SCHENKER WAJNBERG - Crítico de cinema desde 1992, publicou textos no JORNAL DO BRASIL e escreveu com regularidade para o JORNAL DO COMMERCIO. Integrou o júri da crítica internacional nos festivais de Fribourg (2000) e Miami (2001). Trabalha atualmemente na TRIBUNA DA IMPRENSA e participa, como convidado, do programa Cadernos de Cinema, da TVE.

 Foto: Marcele Pontes

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